O mundo produz 180 milhões de toneladas de açúcar por ano, um mercado de 70 bilhões de dólares, e crescimento de 1 a 2% ao ano, sendo que 80% dessa produção vem da cana-de-açúcar, e 20% da beterraba.
O açúcar foi uma das primeiras commodities da história e o acesso a ele é até hoje uma questão estratégica para qualquer país, já que o açúcar serve não só como adoçante, mas também tem um papel fundamental na tecnologia de alimentos, agindo como conservante, texturizante, aromatizante e agente de fermentação.
Mais de 110 países produzem açúcar
Por isso, mais de 110 países do mundo produzem açúcar, muitos gastando bilhões de dólares por ano com subsídios aos fazendeiros de cana e de beterraba. Essa difusão e liquidez do açúcar faz dele uma das commodities mais interessantes para o trader.
Nesse artigo a gente vai ver tudo sobre o mercado de açúcar: como se tornou uma das principais commodities, e quais fatores e riscos influenciam seu preço, e eu vou te dar aqui quatro estratégias possíveis para lucrar com negociação de açúcar, lembrando que em renda variável você também pode ter prejuízo, certifique-se de compreender todos os riscos envolvidos na negociação de instrumentos financeiros, e é claro que esse isso não é recomendação para comprar ou vender açúcar.
Brasil: o engenho do mundo
Isso porque a cana é utilizada não só para produzir açúcar, mas também etanol, já que 80% da frota brasileira é ‘flex’: pode ser abastecida tanto com gasolina quanto com álcool da cana, a partir de tecnologia desenvolvida no Proálcool, o programa criado após os choques do petróleo nos anos 70, quando o país importava 80% de seus combustíveis e hoje é autossuficiente.
Dependendo do preço do açúcar e do petróleo, os produtores de cana brasileiros podem facilmente alternar entre o açúcar para exportação, ou o etanol para consumo interno, uma experiência que a Índia vem tentando replicar. Atualmente, o eixo de produção da cana se deslocou do nordeste para o sudeste do país, com São Paulo produzindo mais da metade da cana e do açúcar nacional.
O complexo sucroenergético, de açúcar e etanol, exporta mais de 10 bilhões de dólares por ano, sendo o quarto maior setor econômico do Brasil e responsável por 800 mil empregos gerados em 350 usinas pelo país.
20% do açúcar vem da beterraba
Mas nem todo açúcar vem da cana, 20% do açúcar do mundo vem da beterraba. O açúcar de beterraba foi desenvolvido em torno de 1750 pelos alemães, que buscavam uma forma de não depender do açúcar da cana, que só cresce em regiões tropicais.
A beterraba, ao contrário, consegue ser cultivada em outros climas. Apesar de todas as plantas produzirem a chamada sacarose, que é o nome químico do carboidrato que chamamos de açúcar, a cana e a beterraba são as plantas que apresentam o maior teor de sacarose. Pra você ter ideia, a cana produz cerca de 8 vezes mais açúcares do que o milho.
Os maiores produtores de açúcar do mundo
Depois do Brasil, os maiores produtores mundiais de açúcar são Índia, Tailândia, China e Estados Unidos. A Índia chegou a ser o maior produtor de açúcar até 2020, mas atualmente tem 17% da produção, 30 milhões de toneladas por ano, abaixo dos 22% do Brasil, que triplicou sua produção de cana desde os anos 1990.
Mas a Índia se mantém como o maior consumidor de açúcar em termos absolutos, absorvendo ⅙ da produção mundial, até porque em abril de 2023, a Índia ultrapassou a China como país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes.
Tailândia e China colhem cerca de 10 milhões de toneladas de cana por ano cada, mas devido à grande população chinesa, eles também estão entre os maiores importadores de açúcar, junto com a Indonésia. O caso dos Estados Unidos é curioso, porque eles importam açúcar, mas também são o 5º maior produtor do mundo, com 8 milhões de toneladas por ano, sendo que 55% vem da beterraba e 45% da cana, e outros 9 milhões de toneladas são produzidos de outra forma de adoçante, que é a frutose do milho, que é líquida, e cujo mercado eles lideram.
O açúcar é uma indústria estratégica
A produção de beterraba no mundo é 10% da de cana: 200 milhões de toneladas por ano, com os maiores produtores sendo França, Rússia e Estados Unidos. Já a União Europeia, se fosse considerado um único país, seria o 3º maior produtor de açúcar do mundo, com 16 milhões de toneladas, a maior parte vindo da beterraba, que é altamente subsidiada no continente.
O açúcar é um produto tão estratégico para a tecnologia dos alimentos que a maioria dos países ou subsidia seus produtores e estipula preços mínimos, ou impõe tarifas à importação. Com isso, ⅔ do açúcar é consumido internamente em cada país, e só ⅓ chega ao mercado internacional, sendo que quase metade do açúcar internacional vem da cana cultivada no ‘engenho do mundo’, que é o Brasil, cujo açúcar fica mais barato sempre que o real se desvaloriza frente ao dólar.
4 Fatores Impactam o Preço do Açúcar
Agora que a gente já viu alguns números desse mercado, vamos entender os 4 fatores principais que impactam no preço do açúcar:
1) condições climáticas:
a cana é uma planta que depende de muita terra cultivável, clima quente e abundância de chuvas, e portanto exposta aos riscos de queimadas, geadas e secas. A safra da cana vai de maio a novembro, quando se tem mais cana no mercado, e o preço do açúcar tende a cair, mas em caso de geadas ou secas, como a que atingiu a Tailândia na safra de 2020-21, menos cana é colhida e o açúcar fica mais caro. E quando as condições climáticas forem excelentes, então, vai ter muito açúcar disponível e o preço vai cair;
2) geopolítica:
um segundo ponto que você pode observar para obter vantagem são as políticas de subsídio dos governos e eventos geopolíticos. Sem açúcar você não produz destilados, como o rum e a cachaça, e nem fermentados, como vinho, cerveja e pão, já que é o açúcar que alimenta as leveduras que produzem o álcool e o gás, além de o açúcar funcionar como aromatizante e conservante de alimentos, por isso os países estipulam diversas políticas para proteger seus produtores de cana e de beterraba, ou mesmo criam novas regulações para reduzir o consumo de açúcar. A guerra na Ucrânia, por exemplo, pressiona o preço do açúcar para cima, já que está sendo produzido ⅓ a menos de beterraba por lá, e menos fertilizante russo está chegando aos produtores de cana, encarecendo o açúcar;
3) preço do petróleo:
um terceiro fator que influencia no preço do açúcar é o próprio preço do petróleo. Isso porque o etanol da cana é um substituto à gasolina. Quando sobe o preço do petróleo, mais cana será alocada para a produção de biocombustíveis, com isso, menos cana vai ser destinada para a produção de açúcar e o preço dele vai subir. Então, utilize análise intermercados com o petróleo e açúcar.
4) mudanças nos padrões de consumo:
o quarto e último ponto que impacta no preço do açúcar é a mudança nos padrões de consumo. Atualmente, os americanos são os que mais consomem açúcar per capita, são 14 kg por pessoa por ano, seguido do México com 10 kg, mas a tendência é que quanto maior a renda de uma população, menos açúcar ela vá consumir.
Entendendo os Futuros de Açúcar
Vamos entender só mais uma coisa antes de ir pra plataforma, que são os contratos futuros de açúcar no mercado financeiro tradicional. O benchmark mais utilizado é o Sugar 11, referente ao açúcar bruto. Também existe o 5, referente ao açúcar refinado que a gente tem em casa, ou o 16, do açúcar norte-americano, mas vamos focar aqui no mais negociado que é o 11, que começou em 1914 na ICE, a Intercontinental Exchange, que é hoje a principal Bolsa de commodities agrícolas do mundo.
Cada contrato futuro representa 112 mil libras-peso de açúcar bruto, cerca de 50 toneladas, e a variação mínima de preço, o valor do tick, é de 1 centavo de dólar para cada libra-peso. Eu digo libra-peso pra você não confundir com a libra esterlina, que é a unidade monetária inglesa, diferente da libra-peso, que é uma unidade de medida de massa e equivale a 0,45 kg.
Mas hoje existem instrumentos financeiros para negociar commodities como o açúcar que acabam tornando tudo mais acessível.
Assista ao meu vídeo onde mostro na prática como operar açúcar: