Guerras e Mercado
Nesse artigo vamos ver como algumas guerras impactaram o mercado financeiro, mais especificamente o mercado de ações, e você vai se surpreender com o que vou mostrar aqui. Analisando gráficos de importantes índices de ações desde a primeira guerra mundial até a recente invasão da Ucrânia, eu posso garantir que não existe nenhum artigo como esse, então fica até o final.
Como será que as guerras afetam a economia e o mercado financeiro? Será que as ações se desvalorizam ou se valorizam com a escalada de um conflito bélico? Será que o esforço de guerra sacrifica o crescimento econômico e derruba o mercado de capitais? Então, o legal é que não é uma questão subjetiva, a gente consegue ver nos gráficos o quanto os mercados caíram ou subiram durante importantes guerras.
1ª Guerra Mundial
Então sem enrolação vamos começar pela guerra que iria acabar com todas as outras guerras, a primeira guerra mundial, quando as bolsas de valores fecharam por quase 5 meses, nunca mais na história desde então a bolsa ficou tanto tempo fechada para negociação. A primeira guerra mundial começou em 28 de julho de 1914 após o assassinato do herdeiro ao trono do império austro-hungaro, o Franz Ferdinand, e durou até 11 de novembro de 1918.
Essa guerra envolveu as grandes potências do mundo, que se organizaram em duas alianças opostas: de um lado a gente tinha Reino Unido, França e Rússia, do outro lado o império austro-hungaro e o alemão. Com a escalada do conflito, mais nações foram entrando e se aliando a um dos lados.
Essa guerra envolveu aproximadamente 70 milhões de soldados de 30 países espalhados pelos cinco continentes, provocando a morte de aproximadamente 10 milhões de homens em combate — sem contar com outras milhões de vidas perdidas indiretamente por conta da guerra. Aproximadamente 6 mil homens morriam todos os dias durante a guerra.
Em apenas uma batalha (Batalha de Somme), 1 milhão de homens morreram. Será que a Bolsa subiu ou caiu na primeira guerra mundial? Eu encontrei um estudo da LPL Research que compara a reação do mercado de ações a grandes eventos geopolíticos.
2ª Guerra Mundial
Nessa coluna a gente vê o quanto o S&P 500 derreteu em um único dia após o evento geopolítico, então a invasão da Coreia do Sul por parte da Coreia do Norte derrubou as ações em um dia mais do que o próprio ataque a Pearl Harbor, que resultou na entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Mas no acumulado, o ataque a Pearl Harbor fez a Bolsa derreter quase 20% e levou 143 dias para encontrar fundo e 307 dias para se recuperar.
Um detalhe importante é que o S&P 500 moderno só foi lançado em 1957, e aqui a gente está vendo um evento dos anos 40. Então, eu vou abrir aqui o próprio Dow Jones, e a gente sabe que o ataque foi dia 7 de dezembro de 1941, quando uma frota de 353 aviões do império do Japão atacaram a base militar norte-americana, localizada no Havaí.
Além dessa frota de aviões, havia cinco submarinos japoneses, e o ataque resultou na morte de 2.403 militares e 68 civis, e destruiu 19 navios, dentre eles o USS West Virginia, e 188 aviões americanos também foram destruídos, a maioria no próprio solo, já que foi um ataque surpresa e eles nem tiveram tempo de decolar.
Pegando do ataque a Pearl Harbor dia 7 de dezembro de 1941 até o fundo em abril de 1942, a gente vê quase 20% de desvalorização. Mas antes desse ataque a gente tem um evento muito importante pra analisar que é o início de fato da Segunda Guerra Mundial quando Hitler invade a Polônia no outono de 1939, quebrando o pacto de não-agressão com a União Soviética, os comunistas e os nazistas eram farinha do mesmo saco de autoritarismo.
E você acha que a Bolsa de Valores subiu ou caiu quando Hitler invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial? Dia primeiro de setembro de 1939, gap de alta violento, 15% de alta nas ações em poucos dias, mas depois a gente vê que do dia 15 de setembro de 1939, portanto duas semanas após o início da Segunda Guerra Mundial, a Bolsa derrete até o fundo de abril de 1942 na casa dos 40% de desvalorização.
Mas começou a guerra com gap de alta valorizando 15%, percebe que a coisa num é simples assim “ah a bolsa sobe ou desce com a guerra?” É mais complexo que isso, num primeiro momento pode subir, depois ela derrete, ou pode começar caindo e depois sobe, a única coisa certa é o aumento da volatilidade por conta do fator incerteza.
E se a gente quiser fazer um estudo mais aprofundado, bastaria analisar como cada setor da economia reagiu, pra ver qual setor tende a subir mais numa situação de guerra, eu posso fazer isso futuramente em uma parte 2 da análise de guerras e mercado.
Guerra do Vietnã
A Guerra do Vietnã também é um importante conflito a ser analisado no que diz respeito à reação do S&P 500. Mais especificamente a partir do envolvimento direto dos Estados Unidos após o incidente no Golfo de Tonquim, na costa vietnamita, em 2 agosto de 1964, quando um navio americano em missão de espionagem foi atacado por militares norte-vietnamitas.
Deixa eu contextualizar para quem dormia nas aulas de história. O Vietnã do norte era comunista, tinha apoio da União Soviética e da China, enquanto os Estados Unidos e aliados apoiavam o Vietnã do Sul econômica e militarmente desde o início da guerra entre o sul e o norte, em 1º de novembro de 1955, mas só em 1964 que os Estados Unidos se envolvem diretamente com soldados pisando em solo norte vietnamita após esse incidente do Golfo de Tonquim, quando o congresso americano assinou a Resolução do Golfo de Tonquim, dando autorização ao presidente Lyndon Johnson de entrar na guerra.
Uma dica de documentário da Guerra do Vietnã é do Ken Burns, recomendo muito, mas agora o papo é mercado financeiro, então vamos ver a reação do S&P no dia 2 de agosto de 1964, após o incidente no Golfo de Tonquim. A Guerra do Vietnã acabou oficialmente em 30 de abril de 1975, então nossa análise gráfica vai de 1º novembro de 1955 até 30 de abril de 1975.
Invasão do Kuwaitt
Voltando para a planilha da LPL Research, o que me chama atenção é a invasão do Kuwait por parte do Iraque que levou a uma desvalorização do S&P 500 de 16,9% e levou 189 dias para se recuperar. Eu sei que eu estou pulando importantes guerras, tipo a guerra da Coreia ou a do Irã e Iraque em 1979, a ideia é fazer uma parte 2 falando de outras guerras, mas vocês tem que me avisar se for do interesse de vocês.
Então, a Guerra do Golfo começa dia 2 de agosto de 1990, eu sempre marco com a linha amarela vertical, mas deixa eu puxar para o dia anterior para a gente visualizar bem o candle do dia do evento, e você vê que a Bolsa americana caiu no dia que o Saddam Hussein invade o Kuwait, mas o pivô de baixa já havia sido confirmado antes disso, então quem usa análise técnica já estaria vendido antes mesmo da invasão, as pessoas iam pensar até que você tem informação privilegiada e sabia da invasão, mas não, é porque você usa análise técnica e acompanha o canal O Cara do Mercado.
11 de setembro
E como o mercado de ações respondeu à invasão do Afeganistão após os ataques de 11 de setembro, quando terroristas da Al-Qaeda sequestraram 4 aviões comerciais com passageiros numa missão suicida, atingindo as torres gêmeas e o Pentágono, e o quarto avião iria atingir ou a Casa Branca o Capitólio, mas caiu antes de chegar nos alvos, já que os passageiros tentaram retomar o controle da aeronave.
Lembra que nesse estudo da LPL, ele mostra as métricas do S&P 500 após os ataques do 11 de setembro? Mas eu quero ver no gráfico. A linha amarela marca o dia anterior aos ataques, dia 10 de setembro de 2001, e aí a Bolsa só foi abrir em 17 de setembro com um gap de baixa.
Lembrando que o Congresso americano aprovou uma legislação intitulada Autorização para Uso de Força Militar Contra Terroristas, que foi assinada em 18 de setembro de 2001 pelo presidente George W Bush. Isso autorizou o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos contra os responsáveis pelos ataques de 11 de Setembro.
No dia 7 de outubro de 2001, as forças armadas dos Estados Unidos e do Reino Unido começam a bombardear o Afeganistão, com o objetivo de atacar o Taliban e a al-Qaeda, e olha o que aconteceu com o S&P 500, subiu.
Percebe que se você tomar decisões de investimentos com base em notícias, porque você ligou a TV e viu que o Bush invadiu o Afeganistão, você vai perder dinheiro quase certamente. Existe uma máxima no mercado que diz o seguinte: um mercado que reage bem a uma notícia ruim é um mercado forte. Um mercado que reage mal a uma notícia boa é um mercado fraco.
Com guerra ou sem guerra, a economia não vai parar completamente, a gente viu que mesmo na primeira guerra quando as Bolsas fecharam por quase 5 meses, depois a bolsa rompe topo atrás de topo e termina a guerra acima dos patamares que começou. Por essas e outras, a melhor forma de tomar a decisão de comprar ou vender bolsa é através da análise técnica.
Então aqui o preço vinha deixando topos e fundos ascendentes, isso é, tendência de alta, eu tenho que estar comprado. “Ah, mas está começando uma guerra, mas está começando o apocalipse zumbi”, não me interessa, se a tendência é de alta, eu estou comprado, se a tendência é de baixa, eu estou vendido.
Invasão da Ucrânia
Finalmente vamos falar da invasão da Ucrânia. No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Foi o maior ataque a um país europeu desde a Segunda Guerra Mundial, e que resultou na maior crise de refugiados desde então. Não posso entrar muito em detalhes deste conflito específico por conta do algoritmo do Youtube, poderia prejudicar o canal.
Mas eu posso te mostrar esse gráfico, frisando que nada aqui é recomendação de investimentos, nessa guerra eu tenho que falar isso porque ela ainda não acabou, estamos no gráfico diário do S&P 500, eu marquei com essa linha amarela o dia 24 de fevereiro de 2022.
Para quem não lembra, já havia toda uma movimentação militar nas fronteiras da Ucrânia muitas semanas antes da invasão, então nossa análise poderia começar até antes dessa linha amarela. Percebe que o mercado já vinha precificando essa instabilidade e potencial conflito na Europa.
E aí você vê que o dia da invasão foi o dia de maior alta no S&P 500 em muito tempo. Existe um ditado no mercado financeiro “buy the rumor, sell the news”, ou seja, compre os rumores, venda a notícia. É evidente que se a notícia tiver viés negativo, como é o caso de uma guerra, que tem um custo econômico e humanitário, a mesma lógica se aplica, mas no outro sentido, ou seja, venderam os rumores de uma possível guerra, e quando de fato estourou o conflito, o mercado realizou.
É Para Operar Guerra?
A chave aqui é entender que o mercado já vinha precificando o conflito como os gráficos revelam, e para quem usa análise técnica, não precisava nem saber o que estava se passando na Europa, bastaria vender perda de fundo do pivô de baixa e projetar 100%.
Mesmo entendendo essa lógica do mercado de ir precificando as coisas, causa uma estranheza ver a Bolsa subindo bem no dia que estourou um conflito bélico com grande relevância geopolítica. Afinal, durante uma guerra os recursos da economia são destinados para essa finalidade, é um clássico trade off da economia, armas versus manteiga, uma breve explicação para quem ficou com cara de Nazaré: quanto mais for gasto com defesa nacional para proteger o país de agressores externos (armas), menos será gasto com bens pessoais para aumentar o padrão de vida (manteiga).
Se eu destinar 100 bilhões de dólares para a compra de tanques de guerra, fuzis, esses mesmos 100 bilhões não estarão indo para áreas que de fato aumentariam o padrão de vida da população. Ou seja, naturalmente a gente tem o instinto de pensar que quando estoura uma guerra vai derreter a bolsa, mas isso não é verdade como eu demonstrei ao longo do vídeo.
A guerra da Ucrânia afetou toda a cadeia de produção, e a gente viu uma forte alta nos preços da commodities, e a mais importante delas, o petróleo, disparou na casa dos 40% pegando do fechamento do dia 23 de fevereiro de 2022, um dia antes da invasão da Ucrânia até a máxima do dia 7 de março.
Até o momento da gravação desse vídeo o conflito segue em curso, mas acho que já deu para tirar algumas conclusões dos impactos das guerras no mercado de ações. Percebe que a Rússia apesar das sanções também consegue lucrar, já que as commodities que eles vendem, como petróleo e gás natural, valorizaram muito durante a guerra.
Lições de Guerra para Traders
Então a gente viu que mesmo com guerra rolando, o mercado de ações pode terminar em patamares mais altos do que estava quando estourou a guerra. E as guerras impactam menos o mercado financeiro do que as grandes crises financeiras. As maiores quedas das Bolsas de Valores não foram durante guerras, foram em crises financeiras como na crise de 1929, no crash de 1987, na bolha de 1999, e na crise do subprime em 2008.
A própria pandemia de 2020 fez a Bolsa derreter numa velocidade muito maior do que as guerras mais importantes geopoliticamente. E como a gente viu, mesmo que o mercado de ações se desvalorize num primeiro momento, ele eventualmente se recupera e acaba se valorizando entre o início e o fim de uma importante guerra. Ou seja, o risco de estar fora da Bolsa é sempre o maior dos riscos, e eu aproveito esse gancho para te chamar para investir e operar Bolsa de Valores brasileira pelo BTG Pactual.
Assista o meu vídeo sobre Guerras e Mercado:
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